29 de ago. de 2011

Gritos na Multidão


Tomei a liberdade de copiar e aqui colar a crônica de Gustavo Poli (que vc lerá após minhas opiniões), sobre o episódio do técnico Ricardo Gomes. Retrata bem a moral do povo brasileiro. Sobre essa "moral", estava lendo outro dia a notícia do blog "Cem Homems em Um Ano", no qual a autora do blog se propõe a fazer o que está descrito no título do blog. Bom internauta que sou, curioso mais ainda, me deparei com a deturpada moral do povo ali também refletida. Nada de preconceito com a jovem. É dela, faça bom ou mau como ela quiser. A falta de moral foi ver o seguinte: ela criou um tumblr (cemhomenssemnocao) sobre os comentários idiotas que ela recebia. Realmente 99% são comentários idiotas, por isso o tumblr dela chama-se cem homens sem nocao. Mas tem um comentário dum cara que diz o seguinte: "Que hoje o pessoal confunde liberdade com libertinagem, que as pessoas postam todo tipo de fantasia e desejos sexuais nas redes sociais, blogs, etc. E mesmo a divulgação de assuntos ou blogs em sites como globo, ig, uol, sempre vai ter alguma criança lendo. Não tem como controlar o acesso da criança ou adolescente". Diz também que "a palavra moral sofre forte discriminação por essas pessoas que confundem libertinagem com liberdade". Finaliza dizendo que "a autora do blog faz o que quiser da vida sexual de sua vida, assim como cada um que comenta e não recrimino. Mas abomino essa ampla divulgação desenfreada que, infelizmente, acaba deturpando a sociedade desde a raiz".
A resposta da autora do blog foi: "
Agora eu sou responsável até pela suruba de adolescente que tem pai e mãe". Percebe-se que ela está pouco se importando com os reflexos do que ela faz. Parece que esquecemos que o ser humano é um ser sociável. Vivemos em sociedade. Quer fazer o que bem quiser, sem se preocupar em que está vendo ou não? Vá ser ermitão.
Concordo com o comentário do carinha: tá tudo aberto, liberado, "libertinado". Querem ver? Vejam no próprio site da globo o seguinte link: http://revistaquem.globo.com/Revista/Quem/0,,EMI261036-9531,00-RIHANNA+TROCA+BEIJOS+COM+UMA+MULHER+NA+ITALIA.html
Pois bem, no tal link mostra a cantora Rhianna beijando uma amiga, e essa amiga com os peitos de fora na água. Há algum comentário sobre ser ou não normal? Não. Acho estranho que poucos dias atrás o jogador Dagoberto afirmou que "se eu peidar, vira polêmica". Daí que a própria globo gerou uma polêmica incrível pq Dagoberto falou "peidar". Incrível com a palavra "peidar" assusta mais que o beijo público de mulher. Não tenho preconceitos, mas sinceramente não queria que minha filha enxergasse beijo entre pessoas do mesmo sexo como normal. Não quero que ela enxergue uma pessoa sendo assassinada como se fosse normal. Não quero que ela enxergue sexo a três, quatro, cinco, cem como normal. Para que servem fantasias então? Puxa, hoje qualquer criança pode desejar posar nua, o Paparazzo está aí para mostrar isso, pq qualquer criança pode acessar, é abertamente divulgado, com os links de acesso. Pq eu, e qualquer pessoa que conheço, quando vê um caso de sucesso, deseja imitar, seguir o exemplo. Não quero que minhas filhas tenham desejos e curiosidades de como posar nua. Não quero que meus filhos crianças "decidam" serem pais ou mães independentes. Quero que eles estudem, que se preocupem com o futuro, pessoal e profissional.

Vi um outro dia uma crônica sobre como falar sobre homossexualismo hoje é difícil. Vai falar sobre isso em público pra vc ver? Aparece mais de mil para te criticar, que vc é homofóbico, preconceituoso, etc. Esses defensores têm que defender seus ideais mesmo. Mas tem que respeitar que existe uma cultura de séculos, que tem que ser respeitada também. Então eu não tenho o direito de ser, de manifestar minha opção sexual? Pq não é mais uma questão de preconceito, fugiu totalmente desse foco, simplesmente não se pode mais discutir isso, como se fosse tabu ser heterossexual.

Voltando à moça do "Cem homens em um ano", sinceramente não tenho comentários a fazer a respeito dela, da vida dela ou das escolhas delas. Mas posso falar a respeito de mim, de minha vida e do que quero e o que não quero para mim: Não quero ficar com cem mulheres em um ano. Quero mesmo é ficar com uma mesma mulher por cem anos. Ter, criar, sentir, amar meus filhos. Produzir algo de útil para ajudar a salvar nosso planeta, que precisa ser salvo em todos os sentidos, não somente ambiental.

Abaixo, a crônica de Gustavo Poli:

“Tudo o que eu aprendi sobre moral e obrigações… eu aprendi com o futebol”, disse certa vez o escritor argelino Albert Camus – que de palavras e coisas muito entendia. A frase desceu em minha cabeça – como uma bigorna de desenho animado –  ontem, durante Flamengo x Vasco.
Eram 25 minutos do segundo tempo quando o repórter da TV Globo, Marcelo Courrege, informou:
-       Luís Roberto, o Ricardo Gomes, que sempre fica em pé ao lado do gramado, está sentado no banco. Ele me disse aqui que está se sentindo mal.
Inicialmente parecia um breve mal-estar. Ricardo estava de olhos abertos, consciente, encostado no banco – sendo examinado pelo medico Fernando Mattar. A expressão era estranha – mas parecia algo como uma tonteira, excesso de calor. Não era.
Havia um Vasco x Flamengo, um jogo tenso, 21 atletas correndo, se esforçando, brigando, dividindo. Com um a menos, o Flamengo se multiplicava, marcava. O Vasco pressionava. Para os 33 mil presentes – a tensão estava no ar – como também em casa, para quem acompanhava a partida.
Quando a transmissão passou a mostrar a ambulância – em vez do jogo – qual foi sua reação de telespectador? Na vizinhança, pude ouvir um torcedor gritando:
-       Tira essa ambulância daí, mostra o jogo!
As imagens mostravam pouco. Braços carregavam Ricardo, algo desconjuntado, para dentro do veículo. Havia demora. Ele parecia não conseguir ficar em pé. O jogo continuava.
Outra frase me veio – essa do lendário treinador do Liverpool, o escocês Bill Shankly. Disse Bill ali pelos anos 50 ou 60: “Algumas pessoas acham que futebol é um jogo de vida ou morte. Eu garanto que é muito mais importante do que isso”. Sempre me soou ótima – como frase de efeito. Nunca tinha levado a sério. Até ontem.
Para quase todos os presentes no estádio – e para milhões que assistiam pela TV – o jogo importava mais que a vida de Ricardo Gomes. Não que o drama de Ricardo não interessasse – ele simplesmente interessava… menos. Não vai aqui nenhuma recriminação – ninguém tinha noção precisa do que estava acontecendo – e mesmo se tivesse, não haveria muito a fazer (além de relativizar a importância de um jogo de futebol).
O show tinha que continuar – até por falta de alternativa. O que poderiam fazer os jogadores? Ou locutores? Ou torcedores? Claro que se tivesse acontecido uma tragédia em campo – o jogo teria sido interrompido. Mas, diante da dúvida, o torcedor queria futebol. Queria circo. O drama menor – ou particular – a gente podia ver depois.
E então chegamos ao pior momento da tarde. Inflamados pela atávica paixão clubística – alguns cretinos siderúrgicos começaram a gritar “Vai Morrer” na arquibancada Leste Superior do Engenhão. Como disse certa vez uma alma iluminada… perdoa, pai, porque eles não sabem o que fazem.
Quem gritou isso não representa a torcida do Flamengo. Não representa torcida nenhuma – representa apenas um sintoma. “Vai morrer” é um grito habitual da arquibancada carioca – usado, em geral, para intimidar árbitros. Ou adversários – como aconteceu durante o UFC Rio. É mais uma ironia do que uma crueldade – mas ontem esse parâmetro foi galgado.
Mencionar ou ironizar a morte quando ela é uma possibilidade presente é simplesmente vil. Já ouvi torcedores de vários times gritando coisas iguais ou piores – comemorando assassinatos de rivais, celebrando tragédias alheias. Todas as torcidas têm cretinos fundamentais. Mas, por mais abjeto que soe o grito – a vilanização tosca em nada ajuda. Os cretinos do Engenhão não tinham a menor noção da gravidade do caso. Estavam apenas brincando, sem perceber a maldade que praticavam.
O torcedor revela nosso selvagem íntimo – nossa violência ancestral. Em nome de nossa paixão aceitamos ilegalidades, aplaudimos cacetadas, gritamos palavrões. Estamos acostumados com isso – achamos libertador poder xingar juiz, jogador, adversário. Achamos que faz parte da etiqueta arquibalda – que é assim mesmo, que assim ajudamos… e que por nosso time tudo vale.
Vale? Uma multidão que grita “Vai morrer” diante de um socorro de ambulância… quer dizer alguma coisa. E alguma coisa ruim. Imagine o leitor, por um instante, a reação dos filhos de Ricardo Gomes – que estavam no estádio e sabiam do histórico anterior do pai (um AVC em fevereiro de 2010). Imagine e se coloque no lugar deles. Seu pai numa ambulância – e um coro torcedor de  “Vai Morrer”… Ou imagine a reação do próprio Ricardo – dentro da ambulância, talvez consciente – ouvindo.
Camus estava certo – o futebol muito ensina. Nesse caso específico ensina – ou demonstra – que temos muita estrada pela frente. Reclamamos tanto de deputados, senadores, ladroagens e afins – mas os politicos ecoam nossa média moral. E não há termômetro melhor para entender essa média do que a multidão.
Muitos rubro-negros se indignaram com os gritos – e por causa disso quase houve confusão – tanto que o eco foi breve. Breve, mas revelador.  No Coliseu antigo, vez por outra o Imperador perguntava à multidão sobre o destino de um gladiador derrotado. E, não raro, a multidão pedia sangue. UFC à parte, quase não temos mais sangue nas arenas modernas. Mas… a multidão – a nossa particular multidão – continua chutando princípios para escanteio quando interessa.
No vaidoso mundo do bola, Ricardo Gomes é um personagem peculiar. Não faz lobby, não expõe jogadores, levanta pouco a voz, não gosta muito de aparecer ou dizer platitudes. Na tragédia ou no drama, tendemos ao elogio – é verdade. Mas, invertendo o prisma, vale lembrar que a principal crítica ao Ricardo treinador sempre foi por seu excesso… de educação – porque o jogador brasileiro não estaria pronto para responder a um comando civilizado. Pode até ser verdade (embora o trabalho no Vasco venha desmentindo isso). Mas, nesse futebol de cro-magnons instantâneos e australopithecus de esquina, uma crítica dessas dispensa elogios.
O jogo terminou – sem gols. O Vasco x Flamengo eterno continua. Nossa estrada continua. Na vida privada de Ricardo, porém, há um jogo bem mais difícil pela frente. Que a força esteja com ele.
 
Vale destacar a seguinte frase no texto:  "
os politicos ecoam nossa média moral".

Atenciosamente,

Anderson Clayton

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